Eu, enfim, conheci meus Divertidamente
Tinha noção que os meus não eram como os de todo mundo. Só não esperava que fossem esses... :/
Que você já viu eu sei, o que você pode não ter percebido porém é que Divertidamente é um filme sobre depressão. Um filme que mostra com muitas cores e... divertidamente (desculpa) como funciona a cabeça de alguém como eu.
Como um desequilíbrio total das coisas dentro da nossa cabeça nos leva por caminhos bastante TORTUOSOS, quando emoções e sentimentos que jamais deveriam assumir o controle o fazem. Como, também, depressão não é sinônimo de tristeza -- um sentimento que, na verdade, deve ser abraçado e cuidado, não dispensado, porque nos ajuda a aprender e compreender muitas coisas, além de também evoluir aquelas mesmas emoções e sentimentos.
Eu, por exemplo, já percebi que por uma série de razões, não evoluí isso dentro de mim e, aos 36 anos, preciso lidar com reações literalmente infantis a coisas muito adultas. Com a ajuda de terapia e remédios (que dão uma controlada nos Divertidamente, colocando uma série de regras pra cada um), eu identifico isso e exercito uma empatia comigo mesmo, fazendo o que eu tenho de adulto ir buscar o que eu tenho de criança pra encaixar melhor as coisas.
Nos últimos meses, virou meme falar "dos Divertidamente" e como eles estão dentro da cabeça de cada um, ou como reagem a algumas coisas. Geralmente vem acompanhados de um GIF e uma piada que, mais geralmente ainda, é autodepreciativa... Eu me divirto.
Mas aí outro dia, numa das semanas mais pesadas mentalmente de que eu consigo me lembrar, eu parei pra pensar em como seriam os meus Divertidamente, um pouco nessa pegada do meme... E eu percebi que, na verdade, os meus são ADVINDOS de um outro clássico da Pixar.
Os meus Divertidamente são, na verdade, os brinquedos do Sid, o vizinho do Andy em Toy Story. Até mesmo na questão técnica... Sem contar o fato de que eles não falam nada, nunca. :p
Não existe uma Felicidade, uma Tristeza, uma Raiva, um Nojinho, um Bill Hader fazendo algum tipo de personagem. São todos completamente misturados, absolutamente tortos, feios, quebrados, fazendo o que querem ou o que conseguem, por impulso ou não. É uma cabeça sem olho com pés mecânicos de Aranha, um par de pernas com uma vara de pescar, uma cabeça de pato num corpo de homem e pernas de mola. Todos tem capacidade de esticar o suficiente pra em um momento estar no dedinho do pé esquerdo e no outro, na sobrancelha direita. Eles me dizem que eu tenho que sentir coisas antagônicas, pela metade, tudo ao mesmo tempo, com muita força.
São esses sentimentos, completamente QUIMÉRICOS, que me controlam... O que tá completamente errado. São eles que precisam, se não serem trocados pelos Divertidamente de todo mundo, de limites, de uma força pra cuidar. Sem alguém pra organizar, cansa. Desgasta. Me exaure. Todos os dias, os dias todos, tendo de lidar com isso é, muitas vezes, insuportável. E muitas vezes fica pior quando eu percebo, lembro ou sou lembrado de que a única pessoa capaz de cuidar e organizar isso tudo sou eu.
Eu que preciso, de fora pra dentro, botar ordem.
Um eu que, essencialmente, só sabe levantar os braços e pedir pra que alguém dê colo e me tire dali. Uma criança que não cresceu e, enquanto isso não acontece, fica fazendo tudo o que pode para que ninguém sinta nada de ruim por ela. Porque foi assim que aconteceu durante boa parte da minha vida. Porque se eu tou nessa posição, é porque é assim e ponto.
Não há nada que eu possa fazer que não seja nada além da minha obrigação.
Já contei em alguns lugares, como piada, do dia em que eu tava num palco, com sei lá, dois ou três anos, dancinha de final de ano, chorando copiosamente e completamente mijado. A professora da escolinha insistia que eu dançasse, me empurrando do canto para o centro do palco, e a filmagem, comandada por quem deveria ter me tirado de lá no primeiro segundo, não parou e registrou tudo. Eu só estava lá, envergonhado, querendo que aquilo acabasse, enquanto me forçavam a fazer o que eu não queria -- o que aconteceu algumas muitas outras vezes.
Muitas MESMO.
Não surpreende que meus Divertidamente tenham se quebrado tanto a ponto de parecerem monstros do Frankenstein. Não surpreende que eu não faça a menor ideia de como encarar coisas além de pedir colo. Não surpreende que eu não consiga enxergar vitórias pessoais e sempre me cobre para conseguir mais e mais e mais e melhor e mais. Não surpreende que eu continue fazendo o que posso fazer pra quem me vê de fora não sentir um mínimo de coisa ruim por mim.
Porque foi assim que meus Divertidamente entenderam que era pra ser. Foi assim que eles foram construídos. E agora eu preciso mudar. PRECISO. Eu preciso ser o Andy e não o Sid. Eu preciso ser a Riley. Eu preciso respirar.
Eu só não faço a menor ideia de como.