Nothing ever ends

O dia em que uma pessoa que nunca tinha me visto na vida acreditou mais em mim do que eu mesmo.

Nothing ever ends

Carnaval é momento de se expor, né? Vou fazer isso aqui então, começando com o 02 de Março de 2019, Bloco 77, em Pinheiros. Foi nesse mesmo dia em que eu escrevi uma thread no Twitter que, agora, replico por aqui.

Por falta de grana, deixei de tomar meu remédio de uso contínuo. E esse foi um dos maiores erros que já cometi na minha vida. Inicialmente eu pensei que tava dando conta, até o momento em que eu perdi completamente o controle e minha vida pareceu estar se repetindo pela 3a vez.

É inegável que, não fosse esse ano que estou em tratamento, tudo teria sido muito pior. Mas o fato é que, agora que o remédio saiu do sangue, é uma força muito grande que preciso fazer pra controlar tudo. EU JÁ TOU DANDO UM JEITO de conseguir o remédio. Vai ficar tudo bem. MAS eu quero aproveitar só pra dizer duas coisas: não é problema nenhum tomar remédio. Não é demérito, não é uma vergonha, não é você não se controlando. Pelo contrário: o negócio só organiza suas químicas pra você funcionar direitinho.

A outra é: não deixem de tomar seus remédios de uso contínuo de jeito nenhum. Peçam receitas sem data, dinheiro pra amigos, o que for. Mas se seu psiquiatra receitar um pra você, não deixe de tomar nunca.

Um dia, dois, tudo bem, acontece. Mas fora isso...

Já que é pra se expor, né? Essa foto que resume meu humor de carnaval. Tirei no metrô, voltando pra casa, depois do Bloco.

Aí eu tava lá no bloco, entre uma bad e outra, uma vontade de chorar OUT OF THE FUCKING NOWHERE, quando vem a chuva e começa a lavar a alma.

Tanto quanto as vontades de chorar, surgiu uma menina OUT OF THE FUCKING NOWHERE, pegou minhas mãos e começou a pular na minha frente. Ela pediu pra eu fazer a mesma coisa e eu fiz. Já tava encharcado e tava feliz naqueles minutos, por que não?

Em algum momento ela parou, tirou um bom tanto do glitter da minha cara com os dedos e começou a falar que eu vou ser feliz, que as coisas vão ficar bem, que é pra seguir meu coração, que eu vou conseguir o que eu quero. Ela me abraçou MUITO forte, me disse que se chamava Bárbara, e falou que Deus vai cuidar de mim ("mesmo que você não acredite, foda-se") e disse que eu era "lindo e iluminado" e que iria focar todos os pensamentos dela pra mim.

Nesse momento eu já tava quase chorando de verdade e agradeci. Nos abraçamos de novo (um abraço bem bom, forte, de alguém que queria MESMO dar aquele abraço) e ela saiu da mesma maneira que entrou na minha vida: pulando.

Carnaval tem essa coisa mesmo. Cê vira melhor amigo das pessoas por 15mins e tal. Eu poderia só dizer que "doidera né? Mina tava bebaça" e seguir minha vida. Mas ela falou tudo de um jeito que parecia que me conhecia. Sei lá, tipo um Espírito de Carnaval que surge nas chuvas.

E só foi bom. Eu só fiquei ali pensando nessas coisas todas, entre uma piada sobre estar encharcado que eu faria e outra. Que a gente não tá sozinho, mesmo que seja uma pessoa que não faz ideia de quem você seja (ou não, vai saber).

Obrigado, Bárbara. Eu espero que pelo menos alguma dessas coisas que você me disse aconteça. Eu vou fazer minha parte -- ou pelo menos tentar. Começando com o remédio, tá?

“Which came first, the chicken or the egg? The answer appears to be both — at the same time.”

Com um emprego fixo, um bom salário, esse problema dos remédios acabou… Pelo menos em teoria. Era como se boa parte dos meus problemas tivesse sido resolvida e eu, portanto, comecei a fazer uso intermitente.

No começo demorava mais. Agora, quase um ano depois de conhecer a Bárbara, meu corpo reage rapidinho aos remédios -- um ou dois dias e a estabilidade é total, insuportável em alguns momentos. Três ou quatro com a rotina desregulada (culpa do tal do recesso e essa coisa toda de não sabermos que dia é hoje) e é como se eu abrisse o portão do inferno. É esse ponto em que eu me encontro nesse momento.

Foram dois meses bem reguladinhos, porque acima de tudo eu precisava me estabilizar no trabalho novo - agora eu já tou querendo desencanar do tal do recesso só pra encarar um pouco de silêncio e um ambiente em que eu possa produzir, o que significa que funcionou.

Mas, sem remédio, outras tantas coisas aparecem. E desaparecem.

O foco da Carol, minha terapeuta, agora é me fazer mudar a minha própria opinião sobre mim. Se levar em consideração como eu tava há dois anos, bem, eu já tou na oitava reencarnação. Mas basta uma sessão pra eu perceber o quanto as coisas vão demorar. O quanto tá tudo bagunçado aqui dentro. O quanto tá tudo quebrado. Peças soltas, parafusos faltando, fios ligados de maneira totalmente errada…

Tenho me sentido muito sozinho. Mas a simples ideia de me ~abrir com alguém que não a Carol me dá enjoo, ataca a ansiedade, faz meu corpo querer desligar. Qual o sentido de não gostar de se sentir sozinho, enquanto vem a necessidade de ficar sem ninguém por perto? Já diria o Dr. Manhattan: o ovo e a galinha surgiram ao mesmo tempo... Será que é o caso? Será que esse sentimento se vai quando eu conseguir voltar a me sentir seguro com pessoas? Ou será que eu só vou me sentir seguro quando conseguir não mais me sentir sozinho?

Tá doendo. Meus braços, minhas JUNTAS. Não consigo relaxar, só penso em fugir. Tomei, por três noites seguidas, o dobro da dose do remédio de emergência e já tou amolecendo... Que seja eterno enquanto dure.